segunda-feira, 15 de abril de 2019

Testemunhos Vivos – avós



Entre 35 a 40.
A minha opinião é “muito positiva”, pois fui maltratado pelo regime e farto deste, mesmo em termos profissionais. Fui muito bem aceite no 25 de Abril. Fiquei quase traumatizado com estes anos e com a guerra colonial, não por ter ido, pois não o fiz, devido a uma úlcera e a uma cunha, mas sim porque, um dia depois de ter levado o seu melhor amigo ao aeroporto para partir para a guerra, recebeu a notícia que havia sido morto. A Guerra do Ultramar foi “estúpida” e que deu início à Revolução, que teria sido mais tardia se não fosse a quantidade de homens mortos e traumatizados tanto física como psicologicamente por ela.
As escolas eram separadas pelas de rapazes e as de raparigas, mas não era o único local, também nas igrejas os homens tinham de se sentar à frente e as mulheres atrás, assim os dois sexos raramente se juntavam dado que a igreja e o Estado eram grandes cúmplices. Nas escolas havia o livro único, assim não se atualizava o ensino, os manuais ou o programa, pelo país tão estagnado que era. A reforma de Veiga Simão, alterou algumas coisas e ajudou na evolução do ensino. Os professores batiam nos alunos, o medo reinava nas aulas, todo o Portugal era regido pelo medo. Os pais também davam prendas/prémios aos professores dos seus filhos, tanto para os subornar como para lhes agradecer.
No início do regime as crianças cuidavam de si próprias, iam a pé sozinhas para a escola e trabalhavam desde muito cedo, mas, já depois de serem pais, levavam os seus filhos à escola e iam para as suas escolas trabalhar.
Alguns exemplos são, que os professores primários tinham de casar com alguém de um bom estrato social, o Estado interferia na vida pessoal dos funcionários públicos e, obviamente, não podiam sair do país, precisavam de um passaporte e mesmo assim revistavam tudo na fronteira enquanto muitos morriam a fugir do país.
O que torna o Regime totalitário absurdo?
As pessoas têm de seguir as ideias do Estado, ninguém com ideias próprias, tinha de se aceitar o chefe. Eram punidos por inúmeras coisas e não tinham imprensa ou livros livres. Fui até abordado pela PIDE em 1968 por ser assinante de uma revista que na altura estaria proibida, mas depois consegui dar a volta à situação, por já ter sido nos seus tempos de universitário.
De que maneira encara o valor das instituições contra o corporativismo?
Este corporativismo tinha tendência de defender grupos ou determinada classe que é apoiante do regime. Era e é um erro, continua a haver atitudes corporativistas em algumas profissões atuais.
Falavam do Regime em casa? Tinha medo? De quê?
O regime nunca nos fez mal, não falávamos muito do regime, não éramos ativistas, por isso vivíamos normalmente.
Avô - não tinha políticos ativistas em casa. Livrei-me de coisas, como a guerra por causa de cunhas do meu pai e de sorte como uma doença na altura do recrutamento;
 Avó – O meu pai era salazarista e votava por mim, obrigada a gostar de Salazar durante toda a sua juventude, falsamente.
Em locais públicos, quais eram os temas de conversa?
Nas barbearias só se podia falar de futebol, estava afixado que não se podia falar de política e religião, porque era perigoso e as pessoas eram muito religiosas, quem não era religioso era marginalizado e posto de lado.
                                                               Ana Francisca Batista, 10LH3, 2018-2019

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