Entre
35 a 40.
A
minha opinião é “muito positiva”, pois fui maltratado pelo regime e farto
deste, mesmo em termos profissionais. Fui muito bem aceite no 25 de Abril. Fiquei
quase traumatizado com estes anos e com a guerra colonial, não por ter ido,
pois não o fiz, devido a uma úlcera e a uma cunha, mas sim porque, um dia
depois de ter levado o seu melhor amigo ao aeroporto para partir para a guerra,
recebeu a notícia que havia sido morto. A Guerra do Ultramar foi “estúpida” e
que deu início à Revolução, que teria sido mais tardia se não fosse a
quantidade de homens mortos e traumatizados tanto física como psicologicamente
por ela.
As
escolas eram separadas pelas de rapazes e as de raparigas, mas não era o único
local, também nas igrejas os homens tinham de se sentar à frente e as mulheres
atrás, assim os dois sexos raramente se juntavam dado que a igreja e o Estado
eram grandes cúmplices. Nas escolas havia o livro único, assim não se
atualizava o ensino, os manuais ou o programa, pelo país tão estagnado que era.
A reforma de Veiga Simão, alterou algumas coisas e ajudou na evolução do
ensino. Os professores batiam nos alunos, o medo reinava nas aulas, todo o Portugal
era regido pelo medo. Os pais também davam prendas/prémios aos professores dos
seus filhos, tanto para os subornar como para lhes agradecer.
No
início do regime as crianças cuidavam de si próprias, iam a pé sozinhas para a
escola e trabalhavam desde muito cedo, mas, já depois de serem pais, levavam os
seus filhos à escola e iam para as suas escolas trabalhar.
Alguns
exemplos são, que os professores primários tinham de casar com alguém de um bom
estrato social, o Estado interferia na vida pessoal dos funcionários públicos e,
obviamente, não podiam sair do país, precisavam de um passaporte e mesmo assim
revistavam tudo na fronteira enquanto muitos morriam a fugir do país.
As
pessoas têm de seguir as ideias do Estado, ninguém com ideias próprias, tinha
de se aceitar o chefe. Eram punidos por inúmeras coisas e não tinham imprensa
ou livros livres. Fui até abordado pela PIDE em 1968 por ser assinante de uma
revista que na altura estaria proibida, mas depois consegui dar a volta à
situação, por já ter sido nos seus tempos de universitário.
Este
corporativismo tinha tendência de defender grupos ou determinada classe que é
apoiante do regime. Era e é um erro, continua a haver atitudes corporativistas
em algumas profissões atuais.
O
regime nunca nos fez mal, não falávamos muito do regime, não éramos ativistas, por
isso vivíamos normalmente.
Avô
- não tinha políticos ativistas em casa. Livrei-me de coisas, como a guerra por
causa de cunhas do meu pai e de sorte como uma doença na altura do recrutamento;
Avó – O meu pai era salazarista e votava por mim,
obrigada a gostar de Salazar durante toda a sua juventude, falsamente.
Nas
barbearias só se podia falar de futebol, estava afixado que não se podia falar
de política e religião, porque era perigoso e as pessoas eram muito religiosas,
quem não era religioso era marginalizado e posto de lado.
Ana Francisca Batista, 10LH3, 2018-2019
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