segunda-feira, 29 de abril de 2019

Livre com um livro

Um dia...todos serão lembrados


À semelhança dos anos anteriores, a biblioteca colaborou com a iniciativa do Núcleo de Estudos 25 de Abril, que junta, todos os anos, jovens das diferentes escolas do concelho, através das bibliotecas escolares para preparar um espetáculo a lembrar os valores de Abril.  A representar-nos estiveram os alunos José Luís Viamonte, João Pedro Fiedlher e Francisca Simões.  A encenação esteve a cargo do ator Nuno Preto, que adaptou um texto de “Os Memoráveis” de Lídia Jorge. Esta iniciativa, para além de proporcionar aos alunos a oportunidade de trabalhar com um ator profissional, num espaço, também ele, especial, possibilita o conhecimento e a interação entre jovens de diferentes escolas do concelho e de diferentes faixas etárias. E, acima de tudo...recorda-nos a todos que os ideais de Abril não podem ser esquecidos!






quinta-feira, 25 de abril de 2019

Dia da Liberdade


Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.

Com mãos se faz o poema - e são de terra.

Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
                                Manuel Alegre





terça-feira, 16 de abril de 2019

Poema sobre o 25 de Abril



SERÁ QUE…
Dou por mim a pensar
num país sem liberdade dar.
Nem sei se penso no agora,
no que há de vir
ou no outrora.
Será que ainda não a temos,
que a precisamos de conquistar
ou que nos estamos só a queixar?
Será que,
Pré Cravos,
Aí é que estávamos mal
que após o nosso período
de maior desgraça
tristeza, sofrimento, …
já não há mudança a mudar?
Será que apenas nos adaptámos
à errada definição de liberdade?
Que a informação que nos é dada
e que apenas vivemos numa
Ditadura Globalizada.
Será que já podemos parar
de lutar
ou devemos copiar
a revolução ao luar?

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Testemunhos Vivos – avós



Entre 35 a 40.
A minha opinião é “muito positiva”, pois fui maltratado pelo regime e farto deste, mesmo em termos profissionais. Fui muito bem aceite no 25 de Abril. Fiquei quase traumatizado com estes anos e com a guerra colonial, não por ter ido, pois não o fiz, devido a uma úlcera e a uma cunha, mas sim porque, um dia depois de ter levado o seu melhor amigo ao aeroporto para partir para a guerra, recebeu a notícia que havia sido morto. A Guerra do Ultramar foi “estúpida” e que deu início à Revolução, que teria sido mais tardia se não fosse a quantidade de homens mortos e traumatizados tanto física como psicologicamente por ela.
As escolas eram separadas pelas de rapazes e as de raparigas, mas não era o único local, também nas igrejas os homens tinham de se sentar à frente e as mulheres atrás, assim os dois sexos raramente se juntavam dado que a igreja e o Estado eram grandes cúmplices. Nas escolas havia o livro único, assim não se atualizava o ensino, os manuais ou o programa, pelo país tão estagnado que era. A reforma de Veiga Simão, alterou algumas coisas e ajudou na evolução do ensino. Os professores batiam nos alunos, o medo reinava nas aulas, todo o Portugal era regido pelo medo. Os pais também davam prendas/prémios aos professores dos seus filhos, tanto para os subornar como para lhes agradecer.
No início do regime as crianças cuidavam de si próprias, iam a pé sozinhas para a escola e trabalhavam desde muito cedo, mas, já depois de serem pais, levavam os seus filhos à escola e iam para as suas escolas trabalhar.
Alguns exemplos são, que os professores primários tinham de casar com alguém de um bom estrato social, o Estado interferia na vida pessoal dos funcionários públicos e, obviamente, não podiam sair do país, precisavam de um passaporte e mesmo assim revistavam tudo na fronteira enquanto muitos morriam a fugir do país.
O que torna o Regime totalitário absurdo?
As pessoas têm de seguir as ideias do Estado, ninguém com ideias próprias, tinha de se aceitar o chefe. Eram punidos por inúmeras coisas e não tinham imprensa ou livros livres. Fui até abordado pela PIDE em 1968 por ser assinante de uma revista que na altura estaria proibida, mas depois consegui dar a volta à situação, por já ter sido nos seus tempos de universitário.
De que maneira encara o valor das instituições contra o corporativismo?
Este corporativismo tinha tendência de defender grupos ou determinada classe que é apoiante do regime. Era e é um erro, continua a haver atitudes corporativistas em algumas profissões atuais.
Falavam do Regime em casa? Tinha medo? De quê?
O regime nunca nos fez mal, não falávamos muito do regime, não éramos ativistas, por isso vivíamos normalmente.
Avô - não tinha políticos ativistas em casa. Livrei-me de coisas, como a guerra por causa de cunhas do meu pai e de sorte como uma doença na altura do recrutamento;
 Avó – O meu pai era salazarista e votava por mim, obrigada a gostar de Salazar durante toda a sua juventude, falsamente.
Em locais públicos, quais eram os temas de conversa?
Nas barbearias só se podia falar de futebol, estava afixado que não se podia falar de política e religião, porque era perigoso e as pessoas eram muito religiosas, quem não era religioso era marginalizado e posto de lado.
                                                               Ana Francisca Batista, 10LH3, 2018-2019

domingo, 14 de abril de 2019

Reflexão pessoal - LIBERDADE


Sempre ouvi falar em Liberdade. Daquilo que ela representa e da sorte que tenho em poder, livremente, afirmar que sou livre. Não imagino um mundo sem ela. Não faz – e espero que nunca venha a fazer – parte da minha realidade.
Desde cedo que a liberdade de expressão, de pensamento e a igualdade me foram incutidas de diversas formas. Sempre aceitei e, de facto, sou uma sortuda por ter acesso a esta bênção. Quando, por algum motivo, a me repreendem, sinto-me inconformada e injustiçada.
Mas, nem sempre foi assim. Para eu conseguir ter esta maravilhosa dádiva, outros tantos inconformados, como eu, morreram, foram presos, maltratados e excluídos para que a liberdade fosse implantada no nosso pequenino país. Graças aos corajosos que levantaram a voz quando eram impedidos de falar, por causa daqueles que se moveram quando tinham quilos de ignorância atados a si, por mérito da população que vivia inquieta e ansiosa pela mudança, deu-se a revolução da nossa vida. Conseguimos!
No entanto, nem tudo é tão linear quanto parece. E jamais se julgue que a liberdade está instalada porque não nos está garantida! A barreira está lá, mas aparece-nos disfarçada. Todos os dias somos invadidos e enganados pelos diversos meios de comunicação, pelas redes sociais, pelo nosso amigo mais próximo. É preciso cuidado! É preciso coragem! É necessário ter noção dos perigos que existem e que comandam a sociedade. O mundo não é fácil. E é indispensável a consciência moral e social. Só vive feliz quem vive na ignorância. Ainda assim, temos que viver intensamente, com paixão, com vivacidade e veracidade.
Estamos melhores, mas não estamos bem! Vivemos, ainda hoje, num mundo de corrupção, de abandonos sociais, de má aplicação do dinheiro. E, perante isto, não podemos baixar os braços. É preciso continuar a lutar, dia após dia desde o dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro.


“Ser português é ter na guelra o sangue quente arrefecido por uma ditadura. Ser português é ter poesia de revolução e fazê-la sem violência e de cravo na mão.”
[“Ser português é...” de Guilherme Duarte]

                                                                                  Teresa Cunha, 11LH5, 2018-2019

O 25 de Abril foi um ponto de viragem relativamente a ideais, mentalidades e regime político. Contribuiu para uma sociedade livre, com direito a expressar-se e pensar livremente. Um dia vincado pelo fim da ditadura e pela valorização dos direitos do cidadão.
É inevitável relembrar aqueles que, num momento muito importante da nossa História, se arriscaram em prol de ideais maiores, com um espírito de coragem e humildade, desafiando um regime altamente repressivo que submeteu o povo português à ignorância, censurando tudo aquilo que não convinha ao governo e pondo em causa os direitos humanos.
Efetivamente, o 25 de abril contribuiu para a sociedade em que todos nós vivemos, porém, este trabalho fez-me entender que os princípios inerentes à Revolução têm sido progressivamente esquecidos. A verdade é que a ditadura existe, não em termos de comparação ao regime salazarista, no entanto, ela está camuflada em diversos elementos e meios de comunicação presentes no nosso quotidiano e, neste sentido, os testemunhos fizeram-me consciencializar de que a liberdade é um trajeto longo, não é um processo efetivo nem tão pouco repentino, por isso, é essencial todos os dias fazermos valer os nossos direitos e respeitarmos os outros, não os submetendo aos nossos interesses.

Em suma, é necessário valorizar e preservar nas nossas mentes o nosso passado político, uma vez que foi ele próprio que nos tornou no que somos hoje e, como tal, devemos abandonar a conformidade e lutar pela liberdade e pela igualdade dia após dia, de modo a não cometermos os mesmos erros do passado.
                                                                             Bruna Salgado, 11LH5, 2018-2019

Ao longo do tempo, vim realizando inúmeros trabalhos sobre diversas obras, desde textos narrativos, a poemas e, por fim, teatro. Este foi sem dúvida o trabalho mais árduo, porém o mais interessante e com o qual enriqueci mais a nível histórico e literário.
Alexandre O´Neill, foi o inesperado, uma vez que não contava deparar-me com a poesia magnífica deste, mergulhada em plena ironia, desespero, nojo e tremendamente humana. Posso afirmar que foi um enorme privilégio estudar os seus poemas e a sua vida e é, sem dúvida, a meu ver, um dos melhores poetas portugueses.
Em relação ao conhecimento do passado histórico, revivi, aprendi e modifiquei a minha opinião face ao 25 de abril de 1974, pois refleti sobre os objetivos desta revolução no presente, na qual achei afincadamente que necessitamos de trabalhar muito neste aspeto ou talvez precisemos de uma nova Revolução dos Cravos.
Concluindo, foi um trabalho repleto de aprendizagem e de regresso ao passado dos meus antecedentes antepassados e de uma verdadeira reflexão sobre o nosso mundo e o futuro do mesmo. Também foi bastante interessante pelas diferentes ferramentas usadas para a construção do projeto final, desde os poemas, as pesquisas, a interação com as pessoas que presenciaram o antes e depois do 25 de abril de 1974, e, por último, a arte.

                                                                                    Cláudia Costa, 11LH5, 2018-2019





sábado, 13 de abril de 2019

Entrevista a Carlos Poças Falcão e Torcato Ribeiro


No âmbito do Projeto Individual de Leitura, relativo à Revolução de 25 de abril de 1974, fomos conhecer e entrevistar duas pessoas influentes na cidade de Guimarães que nasceram e cresceram no regime salazarista e que foram personagens intervenientes nas manifestações pré-democracia que ocorreram na nossa cidade.

Torcato Ribeiro e Poças Falcão recordam-se de uma sociedade portuguesa com mentalidades fechadas e movida a medo, recheada de pessoas ignorantes e pouco instruídas. Têm como primeiras memórias um regime duramente autoritário onde até nas escolas havia uma separação entre rapazes e raparigas. Lembram-se de ouvir rádios ilegais que davam notícias clandestinas, por vezes de forma perigosa e, muitas vezes, dentro dos seus carros em plenas noites escuras. Ainda viram pais e amigos a seres presos pela PIDE por serem, simplesmente, opositores ao regime que governava Portugal.

Embora jovens, tinham a perceção da situação social e, aliada à juventude, a vontade de participar em lutas e de serem “valentes revolucionários” era enorme. Movidos pela ânsia de liberdade, pelo querer mudar o mundo (caraterística tão marcante desta fase da vida) e pelo desejo de viverem a sua mocidade em plenitude, relembram a adrenalina que sentiam quando imprimiam panfletos a denunciar a ditadura e distribuíam pela população. Era – como diziam – um dever cívico!
Caraterizam o pós-revolução como um período de paixão, de calor, com todos os sentimentos à flor da pele e declaram que o 25 de Abril é, sem dúvida, uma grande e maravilhosa data da História.

Neste segmento e sabendo como o meu avô aborda este tema, tive uma conversa com ele.
O meu avô, oriundo de uma típica família portuguesa do século XX, habituada à prática da agricultura intensiva, ao lema “trabalhar para comer”, às mentalidades fechadas dos seus progenitores pouco propícios a novos horizontes – que embora analfabetos, fizeram de tudo para proporcionar o melhor aos seus onze filhos e a muitos outros que foram acolhendo pela vida fora – tinha 27 anos, já casado e com um filho com paralisia cerebral quando se dá a Revolução de 25 de Abril.
O pai da minha mãe recorda a sua infância como uma vida simples e feliz dentro daquilo que conhecia. Lembra-se de correr a pé com um carro puxado a bois todas as ruas da sua aldeia e da sua cidade, lembra-se de brincar nas vielas sempre sem qualquer tipo de restrição, apenas com a autoridade parental. “Fazia aquilo que queria sem me ser proibido nada”, “nem eu nem a minha família tivemos qualquer problema com o regime, pois estávamos sempre na nossa vidinha”. Sem qualquer ambição, viveu uma vida meramente terrena, comparada ao fervor revolucionário de Torcato Ribeiro e Poças Falcão.
O meu avô diz, seguramente, que “o que fazia falta nos dias de hoje era um Salazar para trazer de novo ordem a este nosso Portugal”. No entanto, tem a plena noção de que, embora fossem “comboios de barras de ouro” a chegar a Portugal, as pessoas viviam miseravelmente e que havia, de facto, um atraso a nível social. Refere ainda que muito foi feito em relação ao desenvolvimento do país e reconhece que, embora Salazar fosse uma pessoa que hoje faria falta, estamos melhores sem a sua opressão.
                                                                                      Teresa Cunha, 11LH5, 2018-2019

Conhecido de norte a sul do país, marcado pelas suas mudanças bastante significativas e pintado de liberdade, assim é caracterizado o 25 de abril de 1974, a data que modificou a nossa história, o nosso Portugal. Testemunhos de dois homens e duas mulheres, antes adolescentes e agora adultos completos retratam o seu 25 de abril de 1974, numa viagem de regresso ao passado.
“Sociedade do medo”, “Ignorantes” assim carateriza, Poças Falcão e Torcato Ribeiro, a população portuguesa antes da Revolução dos Cravos. Estes dois homens, antigos estudantes do Liceu de Guimarães e da Escola Industrial de Guimarães, atualmente Escola Secundária Martins Sarmento e Escola Francisco de Holanda, respetivamente, relatam a separação entre as mulheres e os homens nesse espaço e a sua luta para pôr um ponto final nesta situação. Ambos tinha uma perceção do que acontecia na cidade e no resto do país e participavam em movimentos, lutas, manifestações, iniciativas pela liberdade, democracia e para o convívio entre os homens e as mulheres. Estas revoltas deram frutos, como, por exemplo, a existência de apenas uma sala de convívio entre homens e mulheres na fábrica, sendo aos olhos destes uma grande vitória.
Para além destes factos, a emigração era bastante presente devido às dificuldades económicas, segundo Ana Maria de Azevedo Pereira que relata que diversos portugueses, como o seu marido Joaquim Martins Ferreira, “iam a monte”, ou seja, passavam o rio de Portugal para a Espanha com um passador, designação atribuída à pessoa que “levava” clandestinamente os portugueses para outro país, como um familiar seu.
Também a guerra colonial teve a sua marca violenta, pois era vista como “perigo de morte” deixando traumas em quem participasse na mesma, segundo Poças Falcão e Torcato Ribeiro. Como despedida dos participantes desta guerra e como a probabilidade de sobrevivência era pouca realizava-se o Desfile de Concertinas como forma de despedida. 
Todos estes fatores contribuíram fortemente para a revolução que deu oportunidade aos portugueses de terem liberdade de expressão, facto que foi mencionado por todos os entrevistados, já que antes do 25 de abril de 1974 caso um indivíduo mostrasse a sua oposição face ao partido ou alguém do regime era-lhe retirado os seus estudos, perdia o emprego ou era preso, sendo que segundo alguns relatos que a entrevistada Ana de Azevedo ouvia na prisão do Tejo, em Lisboa, muitos prisioneiros eram afogados no rio Tejo.
Todavia, Maria de Assunção revela que “O 25 de abril foi bom, mas precisamos de outro!”, uma vez que as injustiças, abandonos e as desigualdades sociais, a corrupção, a má aplicação dos direitos políticos, a falta de respeito e a violência abrangeu Portugal depois do 25 de abril de 1974 até aos dias de hoje, afirmação que é compartilhada pelos restantes entrevistados.  

                                                                                Cláudia Costa, 11LH5, 2018-2019