No âmbito do
Projeto Individual de Leitura, relativo à Revolução de 25 de abril de 1974,
fomos conhecer e entrevistar duas pessoas influentes na cidade de Guimarães que
nasceram e cresceram no regime salazarista e que foram personagens
intervenientes nas manifestações pré-democracia que ocorreram na nossa cidade.
Torcato Ribeiro e
Poças Falcão recordam-se de uma sociedade portuguesa com mentalidades fechadas
e movida a medo, recheada de pessoas ignorantes e pouco instruídas. Têm como
primeiras memórias um regime duramente autoritário onde até nas escolas havia
uma separação entre rapazes e raparigas. Lembram-se de ouvir rádios ilegais que
davam notícias clandestinas, por vezes de forma perigosa e, muitas vezes,
dentro dos seus carros em plenas noites escuras. Ainda viram pais e amigos a
seres presos pela PIDE por serem, simplesmente, opositores ao regime que
governava Portugal.
Embora jovens,
tinham a perceção da situação social e, aliada à juventude, a vontade de
participar em lutas e de serem “valentes revolucionários” era enorme. Movidos
pela ânsia de liberdade, pelo querer mudar o mundo (caraterística tão marcante
desta fase da vida) e pelo desejo de viverem a sua mocidade em plenitude,
relembram a adrenalina que sentiam quando imprimiam panfletos a denunciar a
ditadura e distribuíam pela população. Era – como diziam – um dever cívico!
Caraterizam o pós-revolução
como um período de paixão, de calor, com todos os sentimentos à flor da pele e
declaram que o 25 de Abril é, sem dúvida, uma grande e maravilhosa data da
História.
Neste
segmento e sabendo como o meu avô aborda este tema, tive uma conversa com ele.
O
meu avô, oriundo de uma típica família portuguesa do século XX, habituada à
prática da agricultura intensiva, ao lema “trabalhar para comer”, às
mentalidades fechadas dos seus progenitores pouco propícios a novos horizontes
– que embora analfabetos, fizeram de tudo para proporcionar o melhor aos seus
onze filhos e a muitos outros que foram acolhendo pela vida fora – tinha 27
anos, já casado e com um filho com paralisia cerebral quando se dá a Revolução
de 25 de Abril.
O
pai da minha mãe recorda a sua infância como uma vida simples e feliz dentro
daquilo que conhecia. Lembra-se de correr a pé com um carro puxado a bois todas
as ruas da sua aldeia e da sua cidade, lembra-se de brincar nas vielas sempre
sem qualquer tipo de restrição, apenas com a autoridade parental. “Fazia aquilo
que queria sem me ser proibido nada”, “nem eu nem a minha família tivemos
qualquer problema com o regime, pois estávamos sempre na nossa vidinha”. Sem
qualquer ambição, viveu uma vida meramente terrena, comparada ao fervor
revolucionário de Torcato Ribeiro e Poças Falcão.
O
meu avô diz, seguramente, que “o que fazia falta nos dias de hoje era um
Salazar para trazer de novo ordem a este nosso Portugal”. No entanto, tem a
plena noção de que, embora fossem “comboios de barras de ouro” a chegar a
Portugal, as pessoas viviam miseravelmente e que havia, de facto, um atraso a
nível social. Refere ainda que muito foi feito em relação ao desenvolvimento do
país e reconhece que, embora Salazar fosse uma pessoa que hoje faria falta, estamos melhores sem a sua opressão.
Teresa Cunha, 11LH5, 2018-2019
Conhecido de norte a sul do país, marcado pelas suas
mudanças bastante significativas e pintado de liberdade, assim é caracterizado
o 25 de abril de 1974, a data que modificou a nossa história, o nosso Portugal.
Testemunhos de dois homens e duas mulheres, antes adolescentes e agora adultos
completos retratam o seu 25 de abril de 1974, numa viagem de regresso ao
passado.
“Sociedade do medo”, “Ignorantes” assim carateriza,
Poças Falcão e Torcato Ribeiro, a população portuguesa antes da Revolução dos
Cravos. Estes dois homens, antigos estudantes do Liceu de Guimarães e da Escola
Industrial de Guimarães, atualmente Escola Secundária Martins Sarmento e Escola
Francisco de Holanda, respetivamente, relatam a separação entre as mulheres e
os homens nesse espaço e a sua luta para pôr um ponto final nesta situação.
Ambos tinha uma perceção do que acontecia na cidade e no resto do país e
participavam em movimentos, lutas, manifestações, iniciativas pela liberdade,
democracia e para o convívio entre os homens e as mulheres. Estas revoltas
deram frutos, como, por exemplo, a existência de apenas uma sala de convívio
entre homens e mulheres na fábrica, sendo aos olhos destes uma grande vitória.
Para além destes factos, a emigração era bastante
presente devido às dificuldades económicas, segundo Ana Maria de Azevedo
Pereira que relata que diversos portugueses, como o seu marido Joaquim Martins
Ferreira, “iam a monte”, ou seja, passavam o rio de Portugal para a Espanha com
um passador, designação atribuída à
pessoa que “levava” clandestinamente os portugueses para outro país, como um
familiar seu.
Também a guerra colonial teve a sua marca violenta,
pois era vista como “perigo de morte” deixando traumas em quem participasse na
mesma, segundo Poças Falcão e Torcato Ribeiro. Como despedida dos participantes
desta guerra e como a probabilidade de sobrevivência era pouca realizava-se o
Desfile de Concertinas como forma de despedida.
Todos estes fatores contribuíram fortemente para a
revolução que deu oportunidade aos portugueses de terem liberdade de expressão,
facto que foi mencionado por todos os entrevistados, já que antes do 25 de
abril de 1974 caso um indivíduo mostrasse a sua oposição face ao partido ou
alguém do regime era-lhe retirado os seus estudos, perdia o emprego ou era
preso, sendo que segundo alguns relatos que a entrevistada Ana de Azevedo ouvia
na prisão do Tejo, em Lisboa, muitos prisioneiros eram afogados no rio Tejo.
Todavia, Maria de Assunção revela que “O 25 de abril
foi bom, mas precisamos de outro!”, uma vez que as injustiças, abandonos e as
desigualdades sociais, a corrupção, a má aplicação dos direitos políticos, a
falta de respeito e a violência abrangeu Portugal depois do 25 de abril de 1974
até aos dias de hoje, afirmação que é compartilhada pelos restantes
entrevistados.
Cláudia Costa, 11LH5, 2018-2019